sexta-feira, 13 de junho de 2008

Unidos pelo ódio

Por Rafael Santos

No dia 4 de Fevereiro de 1974, Patty Hearst, com apenas 19 anos, estava em seu apartamento na Califórnia quando recebeu a visita de três membros do ESL (Exército Simbionês da Libertação), uma organização revolucionária de diretrizes marxistas que usava como estratégia para atingir e difundir seus ideais a prática de assaltos, assassinatos e sequestros. Patty, neta do magnata da imprensa norte-americana William Randolph Hearst - ou Cidadão Kane, se preferir -, foi raptada pelo grupo guerrilheiro a fim de ser usada como moeda de troca para a libertação de dois membros do ESL que estavam presos sob a acusação de assassinato.

Passou semanas em um cativeiro, onde era mantida em um armário e sofria frequentemente abusos sexuais por parte dos sequestradores. Após semanas de negociação, a vítima foi finalmente libertada. Pouco mais que dois meses depois, Patty Hearst estava mais uma vez em companhia dos membros do ESL, mas dessa vez com 10 mil dólares roubados de um banco e uma metralhadora na mão. Ela participava da sua primeira ação guerrilheira como integrante do ESL, um assalto ao banco Hiberna Bank, e que foi
captado pelas câmeras de segurança do local.

Após o sequestro - ou talvez mesmo durante - a neta do Cidadão Kane adquiriu afinidades ideológicas com a organização revolucionária e tornou-se parte dela. Patty então passou a atender pelo nome de "Tania", em homenagem à companheira de Che Guevara. O ESL chegou a fazer a divulgação de uma foto em que ela aparece de armas em punho.

Para alguns, Patty Hearst estava sofrendo do que é chamado de Síndrome de Estocolmo, um estado psicológico em que as pessoas, quando submetidas a circunstâncias de stress e medo extremo, desenvolvem como forma de proteção uma certa simpatia e afinidade por aquilo que lhe causa mal - no caso de Patty, os membros do ESL.

Essa disfunção psicológica recebe tal nome devido a um caso ocorrido em Estocolmo, em que duas reféns de um assalto a banco passaram a proteger os criminosos, elogiando-os e pedindo para que eles não fossem presos. No entanto, outras pessoas acreditam que Patty foi sujeita a uma lavagem cerebral, em que os guerrilheiros incutiram nela a ideologia do grupo. Outros, sustentam a idéia de que a transformação de Patty é consequência da sua espontânea aceitação dos ideais do ESL, assim como da negação da vida burguesa que ela vivia e estava fadada a viver pelo resto da sua vida. Patty Hearst foi sentenciada a 35 anos de prisão, mas cumpriu apenas 6, devido a uma ação judicial do presidente Jimmy Carter.

E como não poderia deixar de ser, no fim tudo vira indústria cultural. Hoje em dia Patty Hearst faz bicos como atriz e a sua história pode ser vista em alguns filmes e documentários. A Síndrome de Estocolmo tornou-se música nas mãos de alguns artistas (Muse, Yo La Tengo, Blink-182) e blogs na internet falam sobre tudo isso.

Fontes:

www.independenciaoumorte.com.br/node/433

www.revistasete.com/espaco_aberto_10_sindrome_de_estocolmo.html

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