terça-feira, 10 de junho de 2008

Nas extremidades das artes

Por Rafael Santos

Há momentos em que um silêncio ou um barulho a mais, algumas palavras dispostas em posições incomuns, o acréscimo de elementos do insconsciente e do irracional ou mesmo uma tinta aleatoriamente borrifada são o bastante para questionar a rigidez e o classicismo muitas vezes presente nas artes.

Não se trata de chocar apenas por chocar ou de dissolver padrões apenas pelo prazer em subverter a ordem. Muitas vezes a inovação e o experimentalismo estão mais ligadas às circunstâncias sócio-históricos do que ao simples desejo de destruir o que é duro e repetitivo. Nas mais diversas produções artísitcas podem ser encontrados instantes em que a inovação artística foi levada aos extremos.

Orson Welles e John Huston, por exemplo, transformaram o cinema devido às inovações técnicas dos seus filme Cidadão Kane e Rififi, respectivamente. Já Um Dia De Cão, estrelado por Al Pacino, ganhou o prêmio BAFTA de Melhor Trilha Sonora - mesmo ele não tendo uma -, enquanto que o visceral Irreversível e o perturbador Amnésia narram suas histórias do fim para o começo.

Na pintura, encontramos Jackson Pollock (foto) criando seus quadros andando sobre eles enquanto a tinta é atirada das suas mãos. Joan Miró, para poder expressar seu sub-consciente em forma de cores, se submetia à fome para produzir alucinações visuais - encontradas em O Carnaval de Arlequim.

Já o compositor musical John Cage escreveu a partitura de 4´33´´, na qual o músico não deve tocar sequer uma nota durante sua execução. Quem não iria gostar de tanto silêncio era o alemão Karlheinz Stockhausen, que produziu uma obra em que um dos instrumentos usados eram helicópteros. A banda The Who, menos barulhenta, produziu Tommy, uma ópera-rock que conta a história de um personagem fictício.

Em se tratando da arte de escrever: A Cantora Careca, peça de Eugene Ionesco, conta a história de duas pessoas que começam a conversar e no final se dão conta de que são marido e mulher; James Joyce criou a técnica do fluxo de consciência; os dadaístas escreveram poemas utilizando palavras aleatórias - como destruir um espelho no chão e usar os cacos espalhados; e Clarice Lispector começou um livro com uma vírgula e o terminou com dois pontos.

Algumas dessas inovações e extremismos artísticos permanecem com os anos - chegando mesmo a se solidificarem e tornarem-se novos padrões -, outras, ou são muito novas ou se mantêm no esquecimento, talvez por ainda estarem muito à frente do nosso tempo.

2 comentários:

Conde Olaf disse...

Rafael, muito bem escrito e com boas referencias artisticas.Parabéns pelo pequeno grande artigo.E viva a arte experimental, marginal(izada), e todas as formas de expressão de que alguma forma nos instiga o pensamento...

Débora Hütz disse...

Gostei bastante do texto, como o conde olaf já comentou: ótimas referências. Seria bom se essas inovações não se tornassem esquecidas. Ouvi falar hoje em "4:33" e achei muito interessante a história de sua "composição".