sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ecce Ogro


Por Larissa Ferreira

Assim como Nietzche em seus escritos, Shrek (DreamWorks) também questiona a moral e o poder. Além de fazer uma releitura dos antigos contos de fadas.

Para Nietzche, a idéia de Deus teria sido originada do medo, e essa crença num ser divino era contrária à possibilidade de afirmação da vida e da vontade do poder. Ou seja, era preciso “matar Deus” para que os homens afirmassem seus anseios e seu desejo de poder.

Na história do ogro, nota-se uma pirâmide hierárquica, onde o príncipe está no topo e submete todos às suas vontades. E, fazendo um paralelo a Nietzche, – segundo Carolina Fossatti, mestre em Comunicação Social pela PUC-RS e autora do artigo ‘Para além da moral: uma perspectiva de Shrek’ – “observa-se que a atuação do príncipe equipara-se a de Deus que, onipotente, determina o caminho da vida, protegendo aqueles que o concebem como detentor da verdade. Mantêm sob seu controle e suas ordens todas suas mediações, tendo em suas palavras a verdade e a santificação, não permitindo espaço a oposições ou questionamentos”.

Se se levar em conta as teorias do filósofo, poderíamos dizer que no reino de Far Far Away, o Lord Farquaad assume um “papel divino” – apesar do filme possuir uma base cristã e pregar que o bom sempre prevalece sobre o mal (no caso, o ogro bonzinho vence o malvado Lord Farquaad). Bem como a existência de uma moral relativista (mesmo que na maior parte do filme todos se submetam à “moral divina” do príncipe), na qual os conceitos de bom e mal, certo e errado, variam de acordo com a perspectiva de quem avalia as ações.

Outro ponto notado é um rompimento com os padrões estéticos esperados e a criação de um herói desconstruído, o que torna o desenho uma produção pós-moderna.

Fora os questionamentos em relação à autoridade, do mesmo modo como Nietzche questiona Deus, o filme traz, ainda, a doce moral de que não importa a aparência externa, mas o que se carrega na alma.