sábado, 14 de junho de 2008

Aqui jaz uma reflexão

Por Lorene Vieira

Para quem não se lembra mais (dizem por aí que memória de brasileiro é assim mesmo), no último dia 12 de junho fez oito anos do sequestro do ônibus 174. A tragédia, em plena tarde de sol, linha Gávea- Central, Rio de Janeiro, foi marcada pelas cenas de horror de quem estava dentro do coletivo e de quem estava aqui do outro lado também, em frente as telas. Principalmente pela professora Geisa.

As cenas do sequestro, transmitidas ao vivo, davam-nos a sensação de estarmos bem ali, no meio do Jardim Botânico. Sandro do Nascimento, assaltante e sequestrador, parou por mais de quatro horas o Brasil com sua ação de terror. Aparentemente drogado, imobilizou Geisa Firmo Gonçalves, 20 anos. Com a arma apontada para a professora, o sequestrador aterrorizou os passageiros, xingou-os e atirou ao redor deles, para (n)os assustar. Após horas e horas de negociação, Sandro desceu do veículo com Geisa. Tínhamos então o alívio, o término do sequestro e, enfim, tudo tinha acabado. Engano nosso: um policial atirou e Sandro revidou. Entre os tiros, Geisa foi atingida por uma bala. Ela foi a primeira vítima.

O sequestrador foi levado, sem nenhum ferimento, para um carro da Polícia Militar. E morreu também, com indícios de estrangulamento, pelas mãos do capitão da PM. Sandro foi a segunda vítima. Para alguns, a maior vítima de todo o processo. A maior porque Sandro teve uma vida sem oportunidades, sem educação, sem chances de crescimento. Ex-menino de rua, foram negadas a ele condições mínimas de sobrevivência. Como milhões de brasileiros, Sandro foi uma vítima sim.

Não estou tentando justificar a sua ação, não é isso. Devemos repensar de onde surge realmente a grande questão. O problema dos Sandros no Brasil vem de muito antes, vem – também – da tão famosa desigualdade social. É dela que partem as mais variadas formas de barbaridades possíveis. Mas refletir sobre o modo de vida de grande parcela da população brasileira é uma história que sempre fica para depois. Afinal, mal lembrávamos do sequestro do ônibus 174, não é mesmo?

Fontes: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u128062.shtml

http://opinioesecronicas.blogspot.com/2008/03/nibus-174.html

Nenhum comentário: