quarta-feira, 4 de junho de 2008

Histórias de um Velho Safado

Por Larissa Ferreira
A vadiagem transformada em arte. As bebedeiras como poesia. Ridículas brigas de bar geniais. Bukowski fez literatura com tudo o que encontrou na história da sua própria vida: angústias, bobagens, dramas, gafes.

“Único”, assim pode-se definir Charles Bukowski. Nascido em 1920, na Alemanha, passou quase toda sua vida em Los Angeles. De onde tirou, dos subúrbios decadentes, inspiração para seus personagens.

Buk era (e ainda é) um escritor único. Escatológico e melodramático. Cínico e marginal (izado). Alcoólatra, machista e politicamente incorreto. Ainda assim, um grande escritor.

Publicou seu primeiro conto em 1944, aos 24 anos e começou a escrever poemas aos 35. Morreu em San Pedro, Califórnia, em 9 de março de 1994; pouco depois de ter terminado “Pulp”.

“Cartas na rua”, “Factótum”, “Mulheres”: são apenas alguns dos vários romances de Bukowski, que também era poeta.

Tido como beat por alguns críticos, Buk nada tinha a ver com a turma de Kerouac e Ginsberg. Os beatniks descendiam do surrealismo francês, gostavam de jazz e eram sexualmente liberais. Talvez essa seja a única semelhança.

Quando recebeu o papel de Henry Chinaski (considerado o alter-ego de Buk), em “Barfly - Condenados pelo vício” (um filme-biografia sobre a vida do escritor), Sean Peann aproveitou a oportunidade e entrevistou o velho safado. Infelizmente, Sean Penn perdeu o papel para Mickey Rourke, mas a entrevista tornou-se memorável. Alguns trechos dela:

Álcool: “O álcool é provavelmente uma das melhores coisas que chegaram à Terra, além de mim. Nos entendemos bem”.

Fumar: “O cigarro e o álcool se equilibram. Certa vez, ao despertar de uma embriaguês, notei que havia fumado tanto que minhas mãos estavam amarelas, quase marrons, como se eu tivesse colocado luvas. E passei a reclamar: ‘Droga! Como estarão os meus pulmões?’”

Poesia: “Faz séculos que a poesia é quase um lixo total, uma farsa”

Nós: “A verdade é que somos umas monstruosidades. Se pudéssemos nos ver de verdade, saberíamos como somos ridículos com nossos intestinos retorcidos pelos quais deslizam lentamente as fezes... enquanto nos olhamos nos olhos e dizemos: ‘Te amo’. Fazemos e produzimos uma porção de porcarias, mas não peidamos perto de uma pessoa. Tudo tem um fio cômico”.

A fama: “É uma cadela, é a maior destruidora de todos os tempos. A fama é terrível, é uma medida numa escala do denominador comum que sempre trabalha num nível baixo. Não tem valor nenhum. Uma audiência seleta é muito melhor”.

Imprensa: “Aproveito as coisas más que dizem sobre mim para aumentar a venda de livros e me sentir malvado”.

Em 2006, o diretor Bent Hamer lançou “Factótum – Sem destino”. Filme que trouxe mais uma vez Hank Chinaski – fracassado que vive de subempregos, corridas de cavalos, bebida barata e mulheres fáceis.

Como escreveu Leonardo Barbosa em seu ensaio: “nós, os leitores de Charles, somos como mulher de malandro. Somos agredidos, apanhados das palavras dele, mas queremos mais”.

Deus salve a América e o Diabo salve Charles Bukowski.


2 comentários:

Bobo,feio e chato. disse...

Bah, tá bem boa essa matéria viu.

Jovaldo Rodrigues disse...

Muito legal, Lara!

Eu tenho o Factódum. =)

E vou te falar, excelente livro.