quarta-feira, 11 de junho de 2008

Já dizia o profeta

Por Lorene Vieira

Nascido em 1917, na Cafelândia, São Paulo, José Datrino era um homem comum. Foi casado, teve cinco filhos e trabalhou no campo. Mas a história da sua vida e de tantas outras mudariam completamente com um chamado que ele sabia que estava por vir. Em 23 de dezembro de 1961, seis dias após um grande incêndio no circo Gran Circus Norte Americano, em Niterói, Datrino ouviu vozes que o direcionavam à sua entrega ao mundo espiritual. Para aquele homem, a sua missão tinha chegado.

Abandonou sua vida familiar e profissional e mudou-se para o local da tragédia. Arrastou seu caminhão e começou a plantar flores pelo trajeto. Do cenário triste, José Datrino contribuía agora com suas palavras reconfortantes e consolava os familiares das vítimas. Sua identidade agora era o Profeta Gentileza.

Com sua barba comprida e bata esvoaçante, o profeta foi incansável na sua missão. Nas barcas entre o Rio de Janeiro e Niterói, a partir de 1970, pregou palavras de amor e paz. “Gentileza gera gentileza” e “sou maluco para te amar e louco para te salvar”, foram frases do homem que dedicou 35 anos às ações de generosidade em resposta aos que zombavam da sua missão.

Nos anos 80, Gentileza pintou murais com seus dizeres. As pilastras do Viaduto do Caju, no Rio, foram escolhidas e cobertas por suas palavras. Após sua morte, em maio de 1996, as paredes pintadas em verde e amarelo foram pichadas. “Só ficou no muro tristeza e tinta fresca”, parte da composição da cantora Marisa Monte sobre a degradação das frases do profeta urbano.

Os painéis foram restaurados pela prefeitura da cidade, com o projeto Rio com Gentileza. Em 2000, o professor Leonardo Guelman publicou pela editora da Universidade Federal Fluminense o livro Brasil:Tempo de Gentileza. Na obra, o autor escreve sobre a história do profeta e a sua trajetória.

Gentileza morreu aos 79 anos. Um exemplo de vida, um símbolo de paz, palavras de sabedoria. A definição é simples: das cinzas da tristeza, conseguiu captar os mais puros sentimentos.

Amor, palavra que liberta. Já dizia o profeta.

3 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Yasmin Barreto disse...

Era um trabalho lindo, realmente; e música feita por Marisa Monte (Gentileza) traduz bem a simplicidade e beleza de sua arte

Conde Olaf disse...

Ta de parabens Lorene!Não so pelo texto, mas pelo assunto. Foi buscar longe esse, não?rsrs.realmente pra mim era desconhecido e creio que pra muitos tambem.Como disse o comentario de Yasmin: um trabalho bonito.Embora para muitas pessoas, tais atitudes sejam digna do termo 'loucura'...