terça-feira, 10 de junho de 2008

Movimentos sociais: Uma luta contra a marginalização.

Por Thiago Vieira

Imagem: midiaindependente.org

A recente ocupação do hotel Brisa Mar, próximo à orla de Aracaju teve seu desfecho na última quarta-feira dia quatro de junho. Através de uma liminar obtida na justiça, decretou-se a reintegração de posse do prédio abandonado há mais de 22 anos. Policiais, inclusive da tropa de choque, foram mobilizados para retirar em torno de 300 famílias.
O movimento foi organizado pelo MOTU (Movimento dos Trabalhadores Urbanos) que agrupa pessoas que trabalham na informalidade ou subempregos como catadores, ambulantes e diversos moradores de rua. Também existem pessoas que não têm condição alguma de pagar aluguel e enxergam na ocupação uma possibilidade de obter a casa própria.
O hotel, construído numa das partes mais nobres da capital sergipana, foi uma iniciativa de um antigo prefeito de Aracaju com recursos da extinta SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste). Entretanto, a obra foi abandonada por suspeitas de desvio de verbas. No dia primeiro de maio, então, os participantes do movimento social ocuparam o local, fazendo-o de moradia para as dezenas de famílias que não tinham condições de moradia vivendo quase um mês.

Relatos de alguns estudantes que foram nos últimos dias de ocupação contam sobre a forma com a qual a polícia foi fazer a desocupação do ambiente. Foi montado todo um forte esquema com veículos, homens e animais (cavalos e cães) para se retirar as famílias. Famílias estas que contavam com muitas mulheres grávidas e crianças. E que mesmo assim tiveram de se submeter àquela situação de possível confronto com policiais armados. As escolhas dadas eram simples: Ou vocês saem pacificamente ou saem pela maneira deles.

Obviamente, o movimento decidiu preservar todas as pessoas que não estavam preparadas para um embate de forças, deixando o prédio. Contudo, houve também um cadastramento de algumas das famílias num programa de habitação do governo.

A grande questão, no entanto, é o porquê de se usar todo esse esquema de força policial para lidar com um caso de ocupação por, sendo repetitivo, famílias? Visto que, no projeto de segurança pública, consta que a polícia deve atuar em situações de multidões e ocupações como órgão mediador de conflitos e não como um órgão intimidador e repressor. Onde se está a mediação quando se dá opções como essa? Ou quando policiais fazem ofensas (fato relatado por uma outra estudante que lá estava, mas preferiu não se identificar) a crianças?

Os movimentos sociais lutam, hoje, não só por moradia, ou seja, lá qual for sua luta. Mas sim para que eles não sejam vistos como marginais ou criminosos. Clamar pelos seus direitos perante a sociedade é quase que um dever de todo o cidadão. E o estado e a sociedade deveriam estar dispostos a ouvir esse grito e a ajudar essas pessoas. O que se vê, no entanto, é uma reprodução errónea de um lado da moeda que tende a colocar os membros desses movimentos como marginalizados ou oportunistas. O que muitas vezes é uma inverdade plantada, ou mesmo, um recorte fora de um contexto. Se um grupo ocupa um local, certamente há um contexto e uma história para aquele fato. Compreender os fatos que permeiam uma ocupação é o primeiro passo para uma nova visão não só dessas ações sociais como também de nosso papel, enquanto cidadãos.

Fonte:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/05/420392.shtml

6 comentários:

Conde Olaf disse...

Vê só: o texto tem um conjunto de ideias coerentes, embora fosse melhor construido se houvesse - caso haja nao esta cumprindo o papel devidamente - um revisor, que poderia ser o responsavel pelo blog, ou outro colega da turma que se encarrega-se da função.Por ser um texto, penso eu, jornalistico, deveria ter uma linguagem mais enxuta e direta.Boa ideia, mas que poderia ser melhorada.Afinal de contas é ainda experimental, entao tudo bem.

P.S.-Kadydja Alburquerque:Li seu post a respeito dos meus comentarios;obrigado. concordo com voce quanto ao menosprezo, nao vale a pena.
Até o proximo comentario...

Anônimo disse...

O problema da falta de moradia é fato. Mas, se essas famílias não podem ocupar aquele espaço abandonado há anos, o que faz aquele grande 'entulho' numa área 'nobre'? Será que ele é menos feio desocupado? Acho que ele poderia ser mais bonito se fosse transformado em algum tipo de habitação, já que se trata de um hotel que não chegou a ser inaugurado.

Anônimo disse...

Caro Conde Olaf
Também acho interessante os seus comentários. Análises feitas por alguém de fora são de grande importância, pois estão alheios a qualquer vínculo com alguém da turma, impossibilitando o "vou apenas comentar para agradar" (com o perdão da rima...rs). Isso já nos prepara para as possíveis reações do público leitor quando estivermos exercendo a profissão. Abraço!

Pedrão disse...

Quando alguém se coloca contra a burguesia e o poder do Estado, isso é crime. O problema é que muita gente por aí acha que lutas como essa fogem do nosso contexto, e lança aquele discurso de que " A culpa é do Estado". A burguesia e os médios-burgueses querem o fim da desigualdade social, mas claro, sem que haja a divisão. O fazendeiro sente pena dos trabalhadores miseráveis, até o momento em que eles estão desorganizados e do outro lado da cerca.

Eu estava na ocupação e presenciei a "negociação" que o Gorverno de Sergipe disse que existiu.

Quem consegue negociar alguma coisa com um policial que traz nas suas mãos uma metralhadora? Há mesmo negociação? Ou intimidação?

A luta, meus caros, é nossa, somos todos cidadãos e devemos lutar contra àqueles que roubam nossos direitos.

Termino esse comentário com o grito de ordem que as criançinhas do MOTU
fizeram numa ciranda:

" Polícia é pra ladrão, pra criançinha NÃO! "

Thiago Vieira disse...

Obrigado pelos comentários, sobretudo, o seu Conde Olaf.
Aceito as críticas e acho que vêm de bom grado para que haja uma melhora em meu texto.
Realmente, houve outros N pontos que gostaria de abordar nessa matéria, mas achei que ficaria um pouco grande e fora da proposta de práxys da professora.

Quanto ao tempo, e compondo o post muito bem colocado de Pedrão, houve uma novidade no caso do MOTU onde a polícia atacou os participantes do movimento social que ocupavam um outro local "público". Foi mostrado no TV Sergipe, cenas dos políciais agredindo os manifestantes que, repito, são FAMÍLIAS. Crianças, mulheres grávidas e pessoas que não tem PARA ONDE IR. O governo quer que eles se abriguem onde já que retiraram eles do prédio?

Que justiça é essa? A justiça das balas de borracha? Das bombas de efeito moral? Protegem a sagrada propriedade privada, passando por cima dos cidadãos?

Enfim, esses são questionamentos que deixo a cargo de cada um refletir e responder...

Kadydja Albuquerque disse...

Concordo com os comentários. Rafael, você é o editor, não se esqueça!
Estou monitorando... Abs a todos!