quarta-feira, 2 de julho de 2008

Viva o lado coca dos Andes


Por Larissa Ferreira


Qual a primeira coisa que você pensa ao escutar a palavra coca?

Os evangelizadores que chegaram em Lima entre 1551 e 1772 classificaram a coca como um produto do demônio; principalmente por seus efeitos energéticos. Para os capitalistas, isso remete ao famoso “suco preto”. Os puritanos diriam que é uma “coisa ruim”, ilegal. Mas, para os povos andinos, a coca, consumida há milênios, faz parte de uma cultura.

Em 1858, as propriedades anestésicas e analgésicas da coca, levaram-na ao ápice da medicina com a descoberta da cocaína (que representa menos de 1% dos quatorze alcalóides que se pode extrair da folha de coca). Por isso, até 1923, época em que o bioquímico Richard Willstatter criou a molécula sintética, a cocaína foi largamente usada como anestésico em cirurgias oftalmológicas e no tratamento de doenças como a tuberculose ou a asma. Depois disso, passou a ser considerada como a causa da dependência de milhões de consumidores em todo o mundo.

Numa investigação realizada pela ONU, em 1959, do Peru à Bolívia, foi concluído que a mastigação de coca provocava “má-nutrição e efeitos indesejáveis de caráter intelectual e mental”. Também foi apontada como a responsável pelos índices de pobreza no subcontinente, pois acreditavam que o seu consumo diminuía o rendimento de trabalho.

Os Estados Unidos, o maior consumidor de cocaína do mundo, em 1961 intensificou a campanha contra a Erythroxylum coca. A produção, industrialização e comercialização passaram a ser proibidas. No entanto, ironicamente, a indústria farmacêutica americana e a Coca-Cola, fugiram à regra.

Ao contrário de toda essa baboseira conservadora, a coca possui propriedades alimentares e farmacêuticas reconhecidas em vários estudos científicos. Segundo o diretor do Instituto de Cultura Alimentar Andina do Peru, Dr. Ciro Hurtado Fuentes, sob a forma de farinha, a coca é capaz de combater a fome que ainda afeta 52,4 milhões de pessoas no subcontinente americano. Na pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisa e Técnica Ultra-Mar (ORSTOM), da França, foi comprovado que a coca permite “uma vida nas alturas”, pois estimula a oxigenação, impede a coagulação do sangue e regula o metabolismo da glucose.

Na década de 90, o programa “Cocaína OMS/UNICRI” trouxe um lampejo de conscientização. Mas, o representante dos EUA na 48º Assembléia Mundial da Saúde, Neil Boyer, tratou de condenar o estudo como “uma defesa da cocaína por argumentar que a utilização da coca não produzia danos perceptíveis sobre a saúde física ou mental”.

Falsos moralismos à parte, é inevitável lembrar que, apesar de associada a efeitos nocivos, a coca continua a fazer parte da cultura de um povo deveras massacrado.

· Para ver a matéria completa clique aqui.

2 comentários:

Bobo,feio e chato. disse...

* para ler ouvindo: Eric Clapton - cocaine ou Camisa de Vênus - cocaína*

Unknown disse...

Oi, pessoal!
Muito boa e esclarecedora, esta matéria!
Eu estive no Peru no mês passado, e tive contato com a tão polêmica Folha de Coca, e o Chá de Coca.
Gostaria de compartilhar com todo mundo um vídeo informativo que eu coloquei no YouTube, no qual eu expresso minha opinião sobre ela, e a relação dela com o refrigerante Coca-Cola.
Aqui está o link:
http://www.youtube.com/watch?v=jg7HxYTsfS4